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Acadêmicos de Psicologia analisam brincadeira em redes sociais
Os usuários do Facebook já estão acostumados com brincadeiras e conteúdos virais que surgem na plataforma de tempos em tempos. Nos últimos dias, muitas pessoas viram ou participaram de um novo passatempo: quem sou eu? A brincadeira possui roupagem inocente e de entretimento, contudo, os acadêmicos Alessandra Santos e Anderson Wawrzonkiewicz, do curso de Psicologia do Centro Universitário IDEAU (UNIDEAU), ao observar a atividade, aprofundaram-se em questões psicológicas ligadas aos indivíduos. Confira abaixo o texto dos alunos
Redes sociais: o jogo das fantasias
Nos tempos contemporâneos nos deparamos com as dificuldades de enfrentamento, em relação a quem somos e de que forma somos vistos ao olhar do outro. Afetos que estão à mercê de um like, de uma solicitação de amizade, de uma visualização nos stories, “imagina se a minha foto for reagida?” Mostramos uma parte de quem somos, daquilo que eu permito que o outro veja em mim, seja ela através de um filtro ou com uma estética melhorada.
E, no meio disso tudo… o coronavírus! A pandemia nos trouxe inúmeros desafios. E na mesma medida sofrimentos. Desde dominar a tecnologia, o isolamento social, a solidão, deixar de ver os amigos e colegas, ter aulas remotamente, relacionamentos amorosos à distância…. Às vezes, ele nem aparece como sofrimento, mas simplesmente uma angústia ou um mal-estar genérico. Esse sofrimento que não reconhecemos, que temos dificuldades de lidar, possivelmente esteja ligado ao quanto nossas vidas mudaram muito desde o começo do ano.
Uma das maneiras para poder dar conta do momento que vivemos e que anda circulando em redes sociais é a brincadeira do Como você me descreveria se te perguntassem: “Qual fulana? ” Uma brincadeira em que o dono do perfil propõe um jogo para os seus amigos virtuais de quem ele é.
A partir dessa brincadeira, nos pusemos a pensar sobre o que isto poderia significar em meio a esse contexto de pandemia. A princípio, parece que o uso de toda essa tecnologia é altamente eficaz e divertido. Mas também há um lado não tão perceptível assim que acaba utilizando estes recursos de maneira sem pensar muito sobre nós mesmos e o uso dela.
De fato, em alguns casos, temos dificuldade em responder perguntas simples como “Quem sou eu? ”. Talvez, seria como se quiséssemos nos encontrar no discurso do outro à medida em que somos reconhecidos e vistos. “Como é bom ser percebido pelos outros e ser lembrado por quando aconteceu aquela situação que compartilhamos juntos” entre tantas outras formas de ser visto, relembrando, percebido… E ainda, talvez em uma camada mais profunda… “A qual lugar será que pertenço? A mim mesmo ou a outros? Será que me reconheço? ”
Nesse sentido, pensamos inclusive o quanto o isolamento social, além de promover benefícios, também promove solidão. Em épocas anteriores o estar só era visto de formas diferentes por vezes menos intensas e o momento atual nos convida e desafia a enfrentar esse novo modelo do sentir, talvez essa seja uma boa oportunidade para refletirmos internamente e podermos conhecer partes que antes não apareciam tanto, talvez por conta das possibilidades sociais que tínhamos. Dessa forma a solitude nos convoca a ter coragem de olharmos para dentro, podendo ver nossas necessidades e tendo consciência de que estar sozinho é um processo normal, só assim poderemos alcançar mudanças necessárias, sendo essas não apenas resolvidas de maneira superficial, como por via de redes sociais, mas que seja uma forma de tomada de consciência para o encaminhamento ao processo psicoterapêutico.
Muitas vezes esse processo por si só não será possível, só terá êxito se tiver ajuda profissional, sendo este um psicólogo. Ter um acompanhamento que seja realizado de forma terapêutica, que possa proporcionar uma escuta, e uma análise compreensível, buscando uma tradução de tudo isso. Tendo essa possibilidade de criar novos significantes, podendo interpretar o que se passa entre os meios daquilo que nos causa sofrimento.